Dos livros: Divagando e Versos & Reversos parte 6

P H I L O S O P H I A P U L I T I Q U E I R A

p h a l s o s pudores putrificam pobre p u l i t i c a g e m perversa, porém pertinente;

p r o p i n a v e l; propositadamente pragmática/ presunçosa/ permissiva/ perniciosa/ prepotente;

pois p r o p i n o d u t o s proliferam pelo Pais - populoso/ prospero/ pouco providente;

povo pacato; predominantemente, pacifico / paciente;

peço perdoem-me por pensar: pretos, pobres, p u t s ! Pagam patos.

40 'dóceis' palavras inciadas pela letra P - de política - 'homenagem' a "p u t a r i z a ç ã o" da dita cuja nos últimos tempos, alusão ao adágio popular "todo político calçar 40".

SOB O GUANTE DA INDIFERENÇA

A noite é leve

Trovão enuncia

Então vem a chuva

Serve de acalanto

Para outrem

Que não tem um teto

Fica inquieto

Chora o seu pranto

E a tormenta

Lhe invade a alma

Desengano embala

Já não tem porvir

Seu existir

Já não tem sentido

Pois o seu gemido

Ninguém quer ouvir

E sem dono

Vara a madrugada

Acordado

Já não mais faz planos

Esperança

Que lhe traga alivio

Quiçá de' um abrigo

Ao amanhecer

Vem o Sol

Derretendo a neve

Devolvendo

Um pouco de esperança

Sob o guante

Da indiferença

Poucos pensam

Em amenizar

Que seu pranto

Não seja tão frequente

Tanta gente

Vivendo ao Deus dará

Que outra noite

Torturante qual

Permaneça-lhe

Somente na lembrança

Que Sob o manto

Do luar sereno

Prenuncie a próxima

Seja mais amena

Desempenha

Seu papel no abandono

Feito cão sem dono

Segue a vagar

Apasiguuae

Tal pranto ninguém vem

Espera do Alto

Que lhe venham Bençãos

E sua crença

Reacende a chama

Que pra sua saga

Haja clemencia.

O OCASO

Finzinho de tarde

O ocaso inflama

No peito uma chama

Desengano aumenta

U'a nuvem cinzenta

Sugere quimeras

Dessa longa espera

Prolonga a tormenta

MERA MAGIA

Parque arborizado

Mesa de bar ao relento

Divaga o pensamento

Quem sou já não sei

Relembro que amei

Um dia amei...

Ouço o cantar dos pássaros

Olho para o alto

Borboleta pousa ao lado

Trouxe-me algum recado?

Não sei.

Aliás nada sei

Miro morro abaixo

Vejo um riacho

Parece-me - ainda

Água cristalina

Relembro minhas utopias

Mera magia

E como tudo que é efêmero

O tempo levou

Uma música estridente - letra chula

Quebra a harmonia

Vou-me embora

Mas, voltarei outro dia.

MEGERA

A solidão é o avesso

O ocaso pertinente

O lado outono do ser

A fera dita indomável

É ladra insaciável

Megera inconsequente.

SERTÃO E A INDUSTRIA DA SECA

É triste ver essa gente

Que produz em abundâniça

Chorando feito criança

Vendo tudo perecer

Quando ao amanhecer

Mira o campo desolado

Ao constatar que' o gado

Não mais tem o que comer

Eleva os olhos pro Alto

Em prece implora clemencia

Pois é forte a sua crença

Que em breve vai chover

Enquanto a chuva não vem

Sobrevive de migalha

Pois a ajuda lhe falha

É grande a desilusão

Quando muito uma ração

Lhe vem do que produziu

Ainda' é assim no Brasil

Lá pras bandas do Sertão

Que "continua ao Deus dará"!

Enquanto isso políticos inescrupulosos se locupletam-se das verbas governamentais e fazem fortunas com a 'industria' da seca...

MATÉRIA PRIMA

Fantasia sai da mente

De quem se diz sonhador

Será que o poeta mente

Ou externa a sua dor?

Por vezes a gente sente

N'uma frase n'uma rima

Chega a olvidar desditas

Mas dá a volta por cima

N'outras

Naufragamos sem ação

Pois é da tal solidão

Do verso a matéria prima.

O VENTO

Já que de fato não posso

Divago em pensamento

Pego carona no vento

Viajo além fronteiras

Fico a madrugada inteira

Imaginando pomares

Visito outros lugares

Donde plantei esperança

Ao menos hoje a lembrança

Faz-me flutuar na Lua

E dessa saudade tua

O vento encurta a distância.

SEM DIREÇÃO

Qual plumas ao vento

Em noite sem Lua

Desapercebido

Costumo passar

Multidões eu vejo

Mas o meu deserto

No meu lugar certo

Costumo ficar

Qual nuvem perdia

No meio da noite

Vagueio sem rumo

Vou sem direção

Qual poeira Cósmica

Quiçá invisível

Alheio a rumores

O meu coração

De que' ainda existe

A tal esperança

Jã não me comove

Quica se renove

Ao menos em parte

No mundo da arte

Vou enveredar

Espero encontrar

N'um vagar constante

Novos horizontes

Possa vislumbrar.

QUEM DISSE TINHA RAZÃO

Quem disse que poeta é louco

Teve razão de dizer

Pois buscam na emoção

Pretexto para escrever

No íntimo dos corações

Semeia sonho em palavras

Divagam no pensamento

Trafega através do tempo

Até o silvar do vento

Lhe serve de inspiração

Desconhece seus limites

E inda há quem acredite

Que ouve a voz da razão

Uns dizem que'é sonhador

Outros que é fingidor

Já eu penso diferente

É contador de histórias

E carpina na memória

Lenitivo à sua dor

Pois seja qual for o tema

Sempre insere alguma cena

De quem sofre por amor.

UM T U O R IMAGINÁRIO

Um navegar sem leme

Um lançar-se em alto mar

Um querer fugi de tudo

Um ir a perambular

Um n'um t o o r imaginário

Um caminhar sem cessar

Um sobrevoar as nuvens

Um sentir-se a flutuar

Um quase sem esperança

Um sem forças pra remar

Um em meio a tempestades

N'um corcel a galopar

Um em plena primavera

Não vê flores pelo chão

Um n'um coração vazio

Um em plena solidão

Um sem ter destino certo

Um seguir sem direção.

NATUREZA: CENÁRIO DESLUMBRANTE

Que cenário deslumbrante

À beira d'uma cascata

De fundo frondosa mata

E um par de borboletas

Voando em pirueta

De inebriar a mente

E o canto dos passarinhos

N'um galho seco o seu ninho

Eles como a vigiar

Sapos e rãs coaxando

Como que nos convidando

N'água também mergulhar

Vendo tamanha beleza

Presente da Natureza

Que dar sem nada cobrar

Me 'indago:

Como é que o homem

Para obter o que consome

Se atreve a tal devastar.

ESPERANÇAR A VIDA

Um ir e vir constante

Esperançar a vida

Percebe-se no semblante

De quem já não tem pressa

Cansado de promessa

Vez em quando se'aflige

Existe, já não vive

Esperançar lhe resta.

UM HOMEM NA SARJETA

O homem oprimido

Do mundo esquecido

Já sem esperança

Nem parece gente

E o tédio lhe'é fértil

Que lhe 'invade a alma

Tenta afugentar

N'um único gole

A desesperança.

DE CARONA NO VENTO

Se ter alma de poeta

É sonhar mesmo acordado

Acredito tenho um pouco

Desse sensível legado

Ou talvez seja somente

Um sonhador iletrado

Brinco juntando palavras

Uma a uma formo versos

Na fonte do sentimento

Da vida narro reversos

Fatos que naturalmente

Nem as paredes confesso

Mas sendo em forma de rima

Digo até frases sem nexo

Divago além fronteiras

Pego carona no vento

As vezes narro verdades

N'outras Apenas invento

Assim engano a mim mesmo

Que quem ler fica na dúvida

Se as bobagens que rabisco

São devaneios ou lamentos.

DESATINOS DOS AMANTES

E daqui vejo a Lua lá no alto

E as estrelas dançando ao redor dela

É inverno mas parece desconhecem

E bailam tal qual fosse primavera

O cintilar das estrelas mas parece

Serem lágrimas escorrendo sem cessar

Do lamento solitário de Saturno

Certamente por não encontrar um par

Donde estou o fascínio é deslumbrante

Vislumbrar quão bela é a noite

E na alma sinto como fosse açoite

O porque dos desatinos dos amantes

Ao redor miro nesse instante

Pirilampos reluzindo sobre árvores

Já nem sei se é ao menos razoável

Rotula-los de meros figurantes

Os segredos e mistérios que se sente

Quando o vento assovia na folhagem

Trás à tona no mínimo uma imagem

Que por certo hipnotiza nossa mente.

ANOITECER NA ROÇA

Desde menino q'eu tinha

Mania de olhar pro céu

Ver as nuvens se movendo

Muita vez formando véu

Noutras formando figuras

E eu divagando ao léu

Quem sabe saudando a noite

A passarada cantava

Com melodias sublimes

Que'a qualquer um encantava

E uma brisa suave

A todos acariciava

Bacuraus e cotovias

Complementavam a orquestra

Os grilos, sapos e rãs

Nos lagos faziam festa

Harmonia era tão grande

Que enfeitava a floresta

Ao amanhecer do dia

Do alto de' um arvoredo

Um gavião fanfarrão

Cantava causando medo

Pois passarinhos menores

Eram-lhes tal qual brinquedo.