O Poeta sem Palavras
Eu e ela caminhávamos
pelo belo jardim da vida
toda beleza admirávamos
um caminho só de ida
sem destino, sem rumo
somente ela, eu e meu fumo
A fumaça subia lentamente
a moça banhava-se ao sol
sorria e corria abertamente
linda, mirava o girassol
eu na sombra permanecia
mirando-a feliz, não me pertencia
Risco de giz, o casaco ao chão
meu fumo queima sem cessar
miro-a com sentimentos a explosão
eu apenas encostado a descansar
deixo a felicidade me abraçar
ao meu lado veio ela se deitar
Deitou a cabeça em meu peito
disse: "Escuto teu coração assim
o palpitar que cessará no leito
mas por muito baterá por mim"
Os olhos da moça inda fechados
sonhos eternos nunca acabados
Minha face esboçou um sorriso
retirado para tragar o fumo do mundo
o que diria ela se meu lesse um verso
"faz tu coisas de vagabundo!?"
O que há de errado com quem sou?
Que há de mim que inda restou?
A fumaça sobe como funil
e com ela o peso em meu peito
gentilmente, abraçou-me sutil
lábios que formaram longo beijo
Tão sincero, ato tão bonito
momento eterno, inda finito
Seus olhos então se abriram
o sol neles brilhavam ardentes
os olhos mais belos que eu vira
existe apenas nas moças contentes
moças que com pureza conquistam tudo
moças, que deixam o mundo mudo
Não há como eu transformar
em palavras o que aconteceu
mais bela que o mundo seu olhar
a coisa mais bela que me sucedeu
O que há no mundo a comparar
com a beleza em um simples olhar?
Sorri, sorri para ela de primeira
beijei-a lentamente em resposta
gostaria de dizer uma palavra e meia
mas sequer haveria proposta
Um poeta que de palavra privado
inda livre, e ainda mais cativado
Um beija-flor nos deu presença
ao nosso lado segue a voar
eu que nunca tive crença
não tive palavras pra explicar
Aquele sorriso que seguiu
toda meu passado... sumiu
Se foi, junto as nuvens poucas
que passaram e agora longe estão
tanto longe estão as damas loucas
assim como outros poetas, lá se vão.
Neste mundo, só ela e eu
no jardim que deus nos deu
Meu fumo? Nem sei onde foi parar
meu casaco? encontrei-o no lago
não há motivos pra se preocupar
pois não há valor no que é pago
Sou um poeta que não conseguiu escrever
mas com esta moça, aprendi o que é viver