Acalanto do poeta, á Mário de Andrade

Poeta brasileiro,

no ardor das náuseas remotas

poeta, descansa.

Desejando um dom ou força

pra cantar o amor e a vida

que faça-o viajar.

Mas que dificuldade!

Quer cantar e não posso

quer sentir e não sinto

a palavra brasileira

que faça-o sonhar…

Poeta, dorme.

Como será o toque

desse vulto reflexo da arte?

Como serão as vozes

a incerteza ou fortaleza

desse solo que é também meu?

Que desgraça! Eu não escuto

mais nem as notas

das velhas canções.

Tenho que rever os versos,

sentir o que li mais cedo ontem.

Você, poeta com sorte,

mas poeta como eu.

Nos vagões dos olhares oblíquos

poeta, descansa…

Poeta,sei de nada

mas no entanto, estou radiado

por uma galáxia de livros.

Sinto-me sozinha

na multidão de versos escritos

aqui na mesa, bem sublinhados.

Gostos seus, geniais.

“Geniais” , como se diz…

Poeta, dorme!

Num conselho de fã enorme

Brasileiro, dorme!

Brasileiro, dorme!

Num ‘amor-de-amigo’ enorme

Poeta, dorme.

Poeta, dorme.

Poeta, dorme.

Poeta… Dorme…”

Tayla Ferreira
Enviado por Tayla Ferreira em 10/03/2013
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