Acalanto do poeta, á Mário de Andrade
Poeta brasileiro,
no ardor das náuseas remotas
poeta, descansa.
Desejando um dom ou força
pra cantar o amor e a vida
que faça-o viajar.
Mas que dificuldade!
Quer cantar e não posso
quer sentir e não sinto
a palavra brasileira
que faça-o sonhar…
Poeta, dorme.
Como será o toque
desse vulto reflexo da arte?
Como serão as vozes
a incerteza ou fortaleza
desse solo que é também meu?
Que desgraça! Eu não escuto
mais nem as notas
das velhas canções.
Tenho que rever os versos,
sentir o que li mais cedo ontem.
Você, poeta com sorte,
mas poeta como eu.
Nos vagões dos olhares oblíquos
poeta, descansa…
Poeta,sei de nada
mas no entanto, estou radiado
por uma galáxia de livros.
Sinto-me sozinha
na multidão de versos escritos
aqui na mesa, bem sublinhados.
Gostos seus, geniais.
“Geniais” , como se diz…
Poeta, dorme!
Num conselho de fã enorme
Brasileiro, dorme!
Brasileiro, dorme!
Num ‘amor-de-amigo’ enorme
Poeta, dorme.
Poeta, dorme.
Poeta, dorme.
Poeta… Dorme…”