BORBOLETRAS

BORBOLETRAS

Pingos mil no telhado,

cai a chuva dolente,

chuva carente

em ruídos de dor retalhada.

Nossa Senhora das Águas,

cuida do meu jardim,

faz só chover assim

sobre os meus jasmins, ai de mim!

Chove, chove, chove...

Nossa Senhora da Noite,

pingos de chuva de mel,

doce como troféu,

um presente dos céus!

Ouço o tilintar de mil pingos,

um pingo no meu papel e

fim...

Chuva pré-data outonal,

escoam as águas rumo a nada.

Nossa Senhora do Nada!

dá-me sustento na empreitada

noite adentro noite noitada,

laborada, bordada de letras,

letras voam feito borboletas

em meus papéis.

Ai, os uis! do vento zumbindo

abraçado à chuva caindo.

O volume das águas aumenta,

sofro a dor da tormenta,

da ausência.

Chuva, ó chuva companheira,

chuva, ó chuva feiticeira!

Beira beirando as margens,

a ribeira,

segue o rio e tece a esteira

rolante rolando riolando falando

as águas toante a maré...

Eu sem eira

chove choro aqui dentro em cachoeiras.

SILVIO MEDEIROS

Campinas, outono é próximo de 2007.