Céu e inferno (para Amy)

A voz enrosca na garganta e diz silêncio

Se encharca n’alma e se exaspera com o que espera

Se ganha o espaço se projeta ao infinito

Espalha origens com questões que quase gritos.

Do corpo exalam, em ofídicos meneios,

Calor e cheiros que se insurgem às roupas

Demonstram gozos que, retidos, ferem a boca

E flecham qual cupido em disparada louca.

O céu e o inferno se entrecruzam num Bourbon

Se entreolham e se apalpam sequiosos.

O céu e o inferno se embaralham num Bourbon

Inspiram a alma e evaporam desejosos.

Cabelos negros, crespos; cílios quase dardos

Irradiantes, dizem o sol que se trovoa,

Em raios tempestuosos que, insolentes, tudo inundam,

Anunciam que não basta o dia para a luz na qual a afundam.

A aguarda a luta contínua contra o luto

Com ela flerta o luto que ao pó a arrasta

Diz ele que não há escapatória (ele é o fim de toda história)

Quer fazer dela resto qual toda escória.

O céu e o inferno se entrecruzam num Bourbon

Se entreolham e se apalpam sequiosos.

O céu e o inferno se embaralham num Bourbon

Inspiram a alma e evaporam desejosos.

Mesmo que vá, e um dia se perca no insondável,

Restam da sua boca os sons, sonidos e vermelhos

Que a renascem e revigoram “fenixianamente”

E sacodem pó e poeira em tesão ainda mais fremente.

Se pó de estrela, agora eternamente bela,

Brilha em canção que não se extingue nem se cala

Risca os céus de nossa existência parca

Crava-se em nós, em ouvidos e peitos, indelével marca.

O céu e o inferno se entrecruzam num Bourbon

Se entreolham e se apalpam sequiosos.

O céu e o inferno se embaralham num Bourbon

Inspiram a alma e evaporam desejosos.