[Intersecções da Vida]
[Reflexões e intertexto com o pensamento de L. Tolstói]
— “Eu trabalho, desejo fazer uma coisa, mas esqueci que tudo termina, que existe a morte”.
— “[Liévin...] ... que ele na verdade esquecera e deixara passar apenas uma pequena circunstância da vida — que a morte virá e tudo terminará, que não vale a pena começar nada e que é absolutamente impossível evitá-la. Sim, é horroroso, mas é assim”
— “[Liévin...] O problema de como viver havia apenas começado a se esclarecer para ele, quando se apresentara um novo problema insolúvel — a morte”
– Tolstói – “Anna Kariênina” – p.346
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O nascimento e...
o duro aprendizado, aos 4 anos de idade, do gosto da morte.
O sonho dos anos verdes de ser um escritor e...
a vaidade de saber tornando-me um cientista nuclear.
O casamento como um sonho de vida e...
a secura da lenta ressignificação do amor.
O despertar de um sono de 48 anos e...
a descoberta da poesia e do sentido mais profundo do amor.
A compreensão de que a mistura de dois seres nunca é total — só se consegue viver o conteúdo-síntese da intersecção de dois processos de vida [dois mundos] e...
a clara noção da dor da perda desse ponto de encontro,
causada por querer mais e mais.
A sensação quase estupidificante da loucura de viver, do sonho, da aventura de tentar fabricar um mundo de conhecimentos, e de cultuar o Belo e...
a visão atônita do Absurdo de existir: o Tempo e a Morte,
esquecidos na vaidosa luminosidade do começo da viagem
de vinda, a tudo destroem...
O cansaço da vida longa, feroz, ambiciosa, marcada pela insaciável e vertiginosa busca de saber mais e mais [inútil busca...] e...
a tristeza das flores brancas naquela manhã de novembro,
e novamente, aquele gosto da morte aprendido
aos 4 anos de idade.
A trajetória das estrelas cadentes de todos os sonhos e...
o resumo de tudo, a convergência num só ponto náufrago:
eu, esse morrente eu perdido... esse eu-quase-morto
O espanto de descobrir que, na vida, só as intersecções contam e...
a frustração de encontros que desejam o todo de mim,
que almejam colocar o verbo Ser no Futuro do Presente
quando eu só o conjugo no Futuro do Pretérito e no Gerúndio.
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[Desterro, 05 de março de 2013]
[As palavras estreitos canais por onde flui uma correnteza pensamentos revoltos — por que eu escrevo o que escrevo? Só o sarcasmo me salva!]