GOTAS DE CHUVA
Gotas recém paridas,
ressentidas por não mais voltar
ao útero da chuva,
batem insistentemente
na vidraça do quarto,
chamando minha atenção.
Que tolas, essas gotas.
Meu olhar foi seduzido
pelo canto do Boto
que beatificou esse corpo forte, viril,
calejado pelas expectativas do universo;
e tão frágil, tão vulnerável, tão amado.
Tão menino ali deitado em nosso altar de oferendas,
a respirar suavemente
como se soubesse que os olhos de sua amada
o velava,cativos, serenos.