ILUSÃO DE POETA
Ninguém entende o que vai n’alma do poeta
quando, escrevendo, se afeta.
Ninguém entende os instantes de desalento e solidão,
de sutil percepção.
Ninguém entende o desleixo de quem se esquece
a escrever como se fosse uma prece.
Ninguém entende a teimosia quase infantil
a ver beleza aonde ninguém viu.
Ninguém entende porque o poeta, feito monge,
se fecha à vida, como se recluso ao monte.
Ninguém entende a ironia maledicente
que escapa à boca e atinge tanta gente.
Ninguém entende os páreos da glória e da alegria
quando da poesia ideal que se cria.
Ninguém entende porque o poeta vive a poetar
coisas sobre o céu, a terra e o mar.
Ninguém deseja, em verdade, compreender essa criatura,
que apenas desvenda o mundo sob os laços da ternura...
MRG