[A imagem de mim]
É noite ainda e te afliges... e tentas...
sim, tentas aprisionar-me na luz
que se apaga quando a noite se vai!
A "imagem de mim" ficará só na lembrança
que insistes em guardar... como se pudesses
fixa-la em tuas retinas aflitas!
Logo, o meu rosto que ontem seguraste
com tuas mãos macias já não será mais.
O sol queima os caminhos todos;
e nada, nada há de ficar senão a miragem trêmula
de minha figura que se afasta sempre, sempre...
Talvez, quando o vazio ocupar o teu olhar,
seja sabido que eu passei na estrada, talvez...
Esperar? Não; toda espera é vazia!
Medita no mistério da duração das coisas,
e me fala: quanto dura uma vida?
Vidas que se desgastam em perdas,
em agruras, duram mais... ou menos?
Quando dura uma espera?
O que é, enfim, a duração?
Pode ela ser medida em versos?
[Fim de noite: vai-se a imagem de mim;
apagou-se a luz, foi-se o sonho!]
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[Desterro, 03 de março de 2013 - às 05:40 ]
[Por que eu estou acordado, a escrever estas coisas,
por que esse amargo, por que esses ressaibos
de Augusto dos Anjos e a sua eterna mágoa!?
Por que eu escrevo o que eu escrevo?]