FIM DE DIA

Desço os degraus da rotina.

Vou pousando a caneta.

A brisa trazendo as regras do mundo.

Sopros difusos e entardecidos.

Vozes indistintas ainda vagas.

Coisas que capto sem querer.

O fim da tarde impondo-se.

Sons repletos dos outros.

Vontades além das minhas.

Gritos que não os meus.

Caminhos abrindo-se nos sons.

Pensamentos fugindo á vontade.

Pressa na luz que foge.

Tensões feitas de horários.

Aves mais silenciosas e mais raras.

Flores de outros tons.

A vida mudando de cor.

Poetas adiados.

Escritos incompletos.

Objectos que demoro a reconhecer.

A outra vida já chegando.

Os ritmos já mudando.

Ajustes sendo feitos.

Idéias a guardar em vão.

Perdida a centelha motriz.

Assumida a hora real.

A mudança que castiga.

O fim tangível do caminho.

O retorno inabalável á esperança.

O carinho da vida a dois.

Campos rasos e chãos.

Espaços abertos para a outra metade.

A mesa farta que me aguarda.

Mas, amanhã, eu volto!