infâmia
vivemos noites de infâmia
vedamos nossas casas,
pregamos nossas janelas
e acumulamos nos cabides,
junto às camisas e palitós
as máscaras que usaremos
quando sairmos pra buscar
comida, água ou alguma
informação;
não sabemos nada do inimigo
seu nome, seu gosto, sua
cultura, apenas sentimos seu bafo,
sua maldição, o seu aperto que
nos prende pela garganta, tirando nosso
ar e nos entope de gás e lembranças;
retraidos buscamos algo que nos entretem
longe da indiferença, da dor enlouquente
e também da dor surda, incapaz sequer de
expressar de tão aguada de tão lama
de tão espessa e ventosa;
e logo sairemos pra comprar mais cabide,
pois o inimigo muda todos os dias o tamanho
de nosso medo....