infâmia

vivemos noites de infâmia

vedamos nossas casas,

pregamos nossas janelas

e acumulamos nos cabides,

junto às camisas e palitós

as máscaras que usaremos

quando sairmos pra buscar

comida, água ou alguma

informação;

não sabemos nada do inimigo

seu nome, seu gosto, sua

cultura, apenas sentimos seu bafo,

sua maldição, o seu aperto que

nos prende pela garganta, tirando nosso

ar e nos entope de gás e lembranças;

retraidos buscamos algo que nos entretem

longe da indiferença, da dor enlouquente

e também da dor surda, incapaz sequer de

expressar de tão aguada de tão lama

de tão espessa e ventosa;

e logo sairemos pra comprar mais cabide,

pois o inimigo muda todos os dias o tamanho

de nosso medo....

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 01/03/2013
Código do texto: T4166047
Classificação de conteúdo: seguro