Memória em preto e branco
Memória em preto e branco
Por onde andam as margaridas da minha alma?
Por onde andam meus pardaizinhos dispersos, alegrinhos?
A relva fresca dos meus sonhos? O rio plácido?
A cerejeira florida, as uvas em cacho?
As minhas paisagens celestes, por onde andam?
A goiabeira dos tempos de menina
O branco dos cabelos de vovó, por onde andam?
O barco de papel navegado tantas vezes
O beijo nas mãos calejadas de papai
O sorriso largo e branco de mamãe?
Por onde andam?
Eu queria que fosse mil novecentos e setenta
E eu seria a inocência pura de outros dias
Da máquina de costura, fazendo roupas de boneca
Da montaria no pangaré cansado da família
Da jabuticabeira carregada, da areia branca no terreiro
Das minhas irmãs me mimando com todo zelo
Da chegada do meu irmão caçula
Da garotada brincando no larguinho
Do meu primeiro e doce amor
Por onde andam?
Por que calam-se, e me deixam sem tamanho colorido?
Cristhina Rangel.