Esperando um dia de sol

Estou aqui esperando,

com meu guarda-chuvas embaixo dessa tempestade,

poderia até dançar ou cantar se não fizesse tanto frio em minh'alma,

porque eu preciso de um dia de sol para abrir meu coração novamente,

preciso de um dia de sol para enxergar o mundo na luminosidade,

preciso de um pouco de afeição que me arranque da solidão,

preciso de alguém que me queira de dia e de noite,

preciso de alguém que me ame à luz de velas ou de neon,

eu nunca imaginei estar aqui parado em uma esquina apenas esperando,

chorando minhas mágoas, vendo minhas sombras diluindo-se na água,

sentindo minhas esperanças escorrendo pelas sarjetas da calçada,

não tendo mais para onde ir, sem saber de onde vim...

.

Estou aqui esperando,

batendo o lápis no papel, lendo uma página em branco,

poderia até desenhar ou escrever uma poesia se a dor não me consumisse,

porque eu preciso de um dia de luz, para trazer alento à minha desilusão,

preciso de um dia de sol para curar minhas feridas tão castigadas,

preciso de alguém que não invente desculpas para se afastar,

preciso de alguém que não tenha medo de viver uma paixão intensa,

preciso de alguém que queira se apaixonar para além das palavras,

eu nunca imaginei estar aqui sentado olhando para o vazio no teto apenas esperando,

provando cada momento de memórias destroçadas pela ventania,

observando minhas forças voarem em um céu cinza como uma pipa sem destino,

não tendo mais para quem dedicar meus sonhos, amargurando carinhos reprimidos...

.

Estou aqui esperando,

jogando pedras em um lago sem peixes, procurando acertar a pontaria,

poderia até pescar minha dignidade nas águas desse mar artificial ou nadar em suas ondas turvas,

porque preciso de um dia de sol para aquecer o congelamento de meus sentidos,

preciso de um dia de sol para espantar os medos de meu baú,

preciso de alguém que não se furte segurar em minha mão no caminho,

preciso de alguém que me deseje como a um sorvete em dia de calor profundo,

preciso de alguém que não jogue meu amor em uma estante empoeirada,

eu nunca imaginei estar perdido sem mapa ou GPS para voltar ao início de tudo, apenas esperando,

desesperado no caos da desorientação de perguntas sem respostas,

considerando a hipótese de me afogar nessa poça de água doce,

fechando os olhos ao silêncio que me aprisiona e ao barulho que me enlouquece...