Versos sombrios eu e Florbela

Sem remédio

Aqueles que me têm muito amor

Não sabem o que sinto e o que sou...

Não sabem que passou, um dia, a Dor

À minha porta e, nesse dia, entrou.

E é desde então que eu sinto este pavor,

Este frio que anda em mim, e que gelou

O que de bom me deu Nosso Senhor!

Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!

Sinto os passos de Dor, essa cadência

Que é já tortura infinda, que é demência!

Que é já vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,

A mesma angústia funda, sem remédio,

Andando atrás de mim, sem me largar!

Florbela Espanca

Versos sombrios

Ando na contra mão desorientada

num ir e vir...Ah ! que viver sombrio

pergunto e a vida não responde nada

sorrir agora é um grande desafio

Sou tarde triste,no outono da ilusão

entrego-me as agonias...ai de mim

porque ainda bate esse meu coração

no descompasso desse sofrer sem fim

Minh'alma sofre e chora porque ama

arrastando -se na dor vil que a inflama

a dar o último suspiro ,"minha maior sorte".

Quando meu corpo estiver na laje fria

que importa se do céu terei ou não a glória

já que vivendo,o amor é minha morte...

Vera Lucia Pimentel