O vinho e suas verdades...

A vida me encara com seus dois olhos enormes

Que possuem um brilho mais que intenso

E repleto de cores, quase como um arco-íris,

No qual tudo que é desejo, tudo que é prazer,

Tudo que é desconhecido se escondem.

E eu me protejo, me cubro com os braços magros de uma pessoa qualquer,

Tendo com pretexto o tão comum medo.

Não ouso olhar em seus olhos profundos.

Temo que eu me perca nessa imensidão imprecisa,

Repleta de rumos estreitos e caminhos duvidosos.

Mas o que é fraco no homem de carne e osso

Grita o grito mais estridente,

Fazendo nascer no mais profundo do meu corpo

O doce veneno da curiosidade.

(Ah, como eu odeio esse falso controle que temos em relação a nós).

E de repente sinto que se molhar na poça de incerteza chamada vida

É a ilusão mais sã que em mim surge.

Agora é abrir mão dá mais amarga vaidade.

Vaidade que prende os meus pés numa realidade inventada,

Onde cada lágrima de um choro qualquer é falsa.

A vida me impõe certas oportunidades

Que eu quase nunca abraço.

Sou repleto de besteiras, que me fazem deixar de lado todo o milagroso momento que o tempo criou.

E o arrependimento me veste, me cobre feito uma capa.

Escondo meu fino rosto, cheio de tristeza marcada,

Para que o mundo não sinta desgosto desta minha cruel

Covardia que me enfeita feito tatuagem.

Mas ainda há de surgir um novo dia.

E mesmo que o céu continue com o seu cinza impenetrável

Será mais do que novo esse dia que irá nascer do ventre da mãe vida.

É o dia onde o medo deixa de ser o único morador deste corpo que agora fala.

E enfim gritarei um sim para os ouvidos surdos da vida.

Olharei em seus olhos.

Me perderei entre caminhos tortos, onde cada passo poderá ser o último tocar no chão.

E cada flor (mesmo que tenha espinhos) será colhida no desconhecido caminho que adentrarei.

E para provar a mim mesmo que esse dia não tardará a chegar, irei mostrar o valor da minha solitária alma a qualquer um.

E entregarei o mais simples afeto desenhado em um roto papel para aquela menina, que tem na pele branca e nos cabelos cor de mel todo um desejo que meu jovem corpo ainda não descobriu.

Deixarei que o talvez seja o pai do que irá surgir.

Só não negarei aquela vontade que agora arde e dilacera a minha carne

E invade, sem se importar com as razões imaginárias, tudo que ainda é puro em mim.

Conhecer a vida em sua totalidade é uma escolha.

Ou você morre sem a conhecer ou você morre de tanto se entregar a ela.

E eu fico com o que for mais difícil, o simples não me serve.

Gosto do gosto do suor, da dor do peso, do cansar do corpo.

Cairei de exausto no olho quente e temido

Que a vida carrega na sua cara de morte.

E a mão do cauteloso e comedido amigo

Não será o apoio que hei de querer.

Porque um dia temos que queimar o que for uma prisão para nós.

Mesmo que doa.

Mesmo que ampute algum de seus preciosos membros.

Pois se bem lembro, se apegar ao que se foi é se prender no que não mais existe.

É fantasia.

E não quero viver a vida esperando somente a morte.

Nem deixarei que a morte seja o fim de minha vida.

Eu espalharei meus restos pelos cantos desta casa escura.

E jovens sonhadores (assim como eu) me cultivarão no terreno do desprezo.

Assim serei eterno.

Farei da vida uma mãe sempre presente.

E o tempo será o meu subalterno.

Os relógios não comandarão minhas vontades,

Os ponteiros não serão a desculpa eterna das minhas vaidades.

Nunca é tarde para que o novo surja.

E que surja sujo e sujo sempre seja.

E ser somente sincero.

Não deixar que os ecos de uma voz comum falem por mim.

Agora eu tão somente choro.

Lavo o resto de medo que ainda há em minhas entranhas.

Deixo o caminho livre para que o que seja novo ande,

Desfile na passarela sem nenhum pingo de prestígio do meu ser.

Me dói te perder.

Mas agora é a hora certa de doer.

Esta bebida amarga e este cigarro fedorento

São as coisas que anestesiam e me consolam por dentro.

Já sinto um reflexo daquele olhar imenso,

Que é um soco violento na boca do estômago da minha verdade.

Verdade que não é o mesmo que sinceridade.

Pois tudo que eu acreditava era o que eu tão somente queria acreditar.

E ser sincero e deixar que a verdadeira verdade te consuma, sem ao menos pedir.

E o olhar imenso trás esta sinceridade envolta em seus longos cílios.

Fim de um personagem que criei para me proteger da sinceridade cruel da vida.

Amiga, me perdoe pelos meus erros.

Mas só os erros que não cometi.

Pois foram à ausência deles que não fizeram ser o que verdadeiramente sou.

Ah, forte vida, agora possuo força para encarar-te.

Agora mostra-me o seu doce sorriso e dê início ao meu fim ou ao meu começo.

Hei de me perder, hei de me encontrar!

Olhar quente como o fogo.

Quero vomitar o que me prende neste nojo.

Eu quero o gozo, o louco, a dor que nasceu para os poucos.

Só não pisque para mim, vida minha.

Deixe, que antes de tudo, que eu entre e escolha o caminho duvidoso da verdade.

Luís Lobato
Enviado por Luís Lobato em 27/02/2013
Reeditado em 12/03/2013
Código do texto: T4161724
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