MEUS VERSOS

Meus versos não são alegres nem tristes,
ainda menos pretensiosos,
líricos ou épicos.
Eles são, apenas, uma força inominável
que arranca de minhas entranhas
sensações estranhas, mas reais
que não ouso confessar ao mundo
em outro foro senão o da poesia.

Meus versos não são herméticos
nem demasiadamente abertos
a ponto de qualquer circunstante
insensível, desatencioso,
ser levado sem nenhum esforço
aos meandros de minha estrada
que, às vezes, nem eu mesmo
tenho certeza de estar trilhando nela.

Meus versos até que são simples
companheiros e confidentes
que podem servir a você,
ser seu amigo, quem sabe?
Levá-lo a diversos caminhos,
trazer à tona seus conflitos,
dar-lhe paz interior
e libertá-lo, talvez.

Basta se darem as mãos
e saírem juntos por ai...
Mas não queira saber jamais
a razão de ser dos meus versos.
Eles são espontâneos, irracionais.
Portanto, muito cuidado,
não cometa a indiscrição
de lhes perguntar sobre isso;
eles podem deixá-lo confuso,
sem resposta e desesperado...

Morro de São Paulo, janeiro de 1981