GÔNDOLA

A saliva na boca me toma

por inteiro uma vontade crescente

extasia, repudia, emerge...

Um monstro cresce do ímpeto...

Quer estraçalhar as vísceras e escapar de dentro

onde às vezes silencia-se num sono profundo

e dorme... e dorme

Noutro momento me corrompe

tornando-me agente de atos não lícitos

provocando a cólera que emana dos nervos

fundindo meu peito ao degelo da realidade

A boca seca pede água para tomar

tenho sede; sou vivo, tenho segredos...

caminho sozinho por uma rua qualquer

vazia, escura... que entorpece.