AVENIDA DA SAUDADE

Os meninos nasceram
Sob a senda de uma cruz
Mãe-paz deu o peito
Farto peito esbanjou leite
Mãe-medo deu o peito
Pobre peito não deu leite
E os meninos cresceram
Sob a luz de mesma letra
Um tem no rosto a ternura
E nos lábios a doçura
Mas a outra criatura
Tem nos lábios a secura
E os meninos vão pra rua
São vidas, são da rua
Que acolhe pobre e rico
Que amaldiçoa pobre e rico
E furta sonhos
Com suas pedras e suas ervas
Sem sonhos não são meninos
São da rua peregrinos
Têm olhos no horizonte
Só poente, sem nascente
Nem nos olhos mais o brilho
Só o sangue sem os sonhos
E as duas vidas quentes
Em suas faces desvalidas
Desfilarão pela florida
E derradeira avenida