Feira Livre

Quem quer comprar?

Um bem de raiz,

uma força motriz,

a potência,

o impulso,

o alicerce de um sonho realizável.

Quem quer comprar?

Uma esperança antiga ( O verde anda meio desbotado,

mas pode-se ainda usar)

Quem quer comprar?

Uma estrela cadente,

um luar de abril,

um arco-íris.

Quem quer comprar?

Um poema musicado de Vandré,

um pensamento maroto de Quintana,

uma estrofe angustiada de Florbela Spanca,

uma charge inédita do Nani,

um ingresso para o show do Skank,

um sorriso poético do Robergom...

Vendo também

( dependendo do freguês )

um abraço gostoso,

um beijo de atriz,

um colo,

um cafuné,

uma carícia louca.

Estou liquidando, gente!

Só não dou.

( Perdoe-me São Francisco )

Mas troco.

Sim. Eu troco por:

um minuto de silêncio,

um som de violino,

uma doce ilusão,

uma noite de amor,

um madrugar sereno.

(Ah! Eu troco sim. Por um prato cheiroso de pequi com arroz

no mês de julho ).

Quem quer comprar?

Uma dose de inércia,

uma gota de preguiça,

o último degrau,

a derradeira etapa.

Quem quer comprar?

O desfecho,

o clímax,

a apoteose,

a foz.

Quem quer comprar?

O apagar das luzes,

o descansar profundo,

o diluir-se.

Aproveitem!

É só hoje.

Amanhã, eu fecho pra balanço.

Observação: Este poema, de autoria da minha amiga poetisa

Tuquinha Miranda, da cidade de Matozinhos, MG, está

publicado no livro: Rio das Velhas em Verso e Prosa, pág 29.