ARTESÃO DE MIM
Sou artesão
Artesão de mim mesmo.
Ceramista na verdade.
Pego do barro de mim
Afar.
Tento me moldar, construir
Com mãos inábeis busco
formar forma exata e
centrada, mas mãos
folhas, mãos humanas.
O material, o barro é prioritário,
Está na origem,
na gênese
na genética do ser
não há como fugir dele.
Se o material é o posto
como exigir o oposto?
O de primeira?
Há de ser sempre ceramista, respondem, gritam para mim.
O ser que se constrói das mãos e do material doado,
nascido se justifica então.
Sou artesão de produto em processo.
Escultor diário de partes de mim - afar
Tradutor em barro – afar
Em ações de tudo que
tento ser na construção cósmica.
Não sou nem pretendo ser artista nobre,
pois o material, já disse,
é a imperfeição.
No entanto jogado na água,
na dor
amolece e se molda a forma que o artesão-mor sonha.
A umidade
O choro é elemento crucial para amolecer e produzir.
Sou alguém que se sabe falta,
Que se sabe barro – afar
Que se sabe esquerdo,
Moldável,
Popular
Artesão de mim.