Tempus bizarrus
O tempo é senhor, é feitor, é delator,
desnuda nossos ossos com molecagem divina,
disseca cada gota de suor sem o menor dó.
É pouco escasso, tem rala paciência, tem gestação longa,
resiste aos nossos nós, nossos desejos, nossos gritos,
vai até onde sua voz se lança, recuando quando bem quiser,
Tempo é bizarro, desafina, descarilha, enlouquece,
faz quebranto dos medos, faz despacho dos sonhos,
quando se embriaga de nós, acaba zombando da própria ferrugem,
então se faz criança só pra brincar até o dia desistir de dançar.
Suas tralhas são penduricalhos afoitos, fardos travessos,
se recosta nas ancas douradas da paixão como musgo eterno,
se traduz vivo quando os ventos decidirem abençoar seus pés.
Tempo é atroz, indigente da alma, rastro misturado,
vai à cata da sua própria luz só pra fazer amor com o breu,
fica de prontidão nos galopes perdidos sem pedir trégua,
é manso, é sonso, é lindo, é vivo,
é tempo, sobretudo.
Então se esquece dos seus sinos, das suas vozes cariadas,
faz toda sua majestade a flor feito primeiro gozo,
coloca todos seus cheiros numa trouxa ainda imberbe,
só pra se alforriar e poder ser o que sempre quis
tempo, somente. Somente tempo.
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