O Instante Final
Na cama resta o ser moribundo.
Aguarda o instante final.
A morte, já aceita, chega a ser bem vinda ante a agonia
da auto-flagelação psicológica e centenária.
Já é acabado, tardiamente, o velório que se estendera
por anos, segundo-a-segundo, de lamento.
Anos estes que o definharam ventre e mente.
No triste processo, foi retorcida a capacidade de rumar
em frente,
pois a necessidade de entender o Como tornou-se vício,
obsessiva.
O que pôs ela no batom, no néctar de sua saliva?
Sangue de Afrodite, sangrado a corte exato de navalha?
Óleo de Iara, extraído para afogar às lágrimas um homem?
Pedra de crack, emplastro Brás Cubas usado pro mal?
Quem sabe veneno de cobra coral?
Não descobriu. Morrerá em breve sem a resposta
pela qual trocou a paz de sua vida.
De onde veio tanto poder
em um único toque?
Como pôde um único beijo tornar
um homem escravo?
Um último suspiro acompanha o olhar vago ao teto.
Lá se vai, derrotado e esquecido, o ser para o Quem-Sabe.
Morreu sem nunca ter vivido o seu estranho amor fatal.