[Aquela luz vermelha]
O meu mundo escancara-se
como um daqueles antigos bordéis,
porta aberta 24 horas por dia...
Nas manhãs, a sonolência,
o cansaço da noite infinita,
a insana busca da eternidade
no gume cortante do desejo...
Ah, e na boca amanhecida,
a remanescência daquele gosto do sexo,
mesclado ao travo amargo de alguma bebida...
Volta, pois, à noite...
E não te espantes com a luz vermelha da entrada,
não é um aviso de perigo; é um convite insistente...
Aquela luz que nunca se apaga te chama assim:
"entra, entra... aqui reina o desejo do teu desejo...
coragem, não tenhas medo de ti mesma; entra!"
Em tempo:
se adentrares o meu mundo,
talvez vejas o que não queres,
ou nunca quiseste ver — os deslimites,
as chamas das tuas carnes infrenes!
Ainda assim, entra... ao depois,
na certa [eu nada prometo...],
haverá alguma cura!
Entra... Aqui a finitude não é lástima,
é apenas angústia de mais e mais....
mas é uma suave e pervasiva angústia,
todo o corpo dela participa.
Entra... entra... coragem, entra...
A vida já vai se acabar...
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[Desterro, 21 de fevereiro de 2013 - às 01h55]