Poesia - 1
O canto mudo das flores
Que sofre só, a dor do mundo
Neste estranho show de horrores
Rogando que se esvaia n'um segundo
Quando livre o pássaro voa
Viaja além do limiar do horizonte
Teu belo canto então ressoa
Em liberdade no vale e monte
Triste é asas ter
Privado o céu a se voar
Teu canto agora, quem há de ver
Que há da arte sem doar
Pássaro meu, minha bela flor
Que pode eu fazer por ti
Tu privada de meu amor
Amor eu nunca vivi
Se no céu inda houvesse azul
Ou se sujo não foste o mar
Cruzaria o mundo, norte e sul
À deitar contigo sob o luar
Banhar de luz a prima estrela
Que traz o dia, a iluminar
Pássaro meu, minha flor mais bela
Mo dera os Deoses poder te amar
Caia do céu finda gota
Que há dos anjos, inda a chorar
Cada benção de ti é solta
Que haja um Deus a saciar
Não te entristeça, crias de pena
Tu só é benção, pra que chorar
De-me tinta e de escrita pena
e mostrarei o que há a penar
Crias de pena, seque vossas
Use tua lira, ponha-se a tocar
Meus versos são umas poucas lástimas
Mas tu sim é quem sabe amar