DEUS!

Os homens seguem sem Deus pelas ruas da cidade

a cidade os engole, mastiga seus corpos e os cospe

dentro dos ônibus, nas esquinas, nos bares

e os força a crer em uma certa felicidade

Os homens não escutam o coração,

nem os sons que brotam dos esgotos

Os homens não cantam a beleza:

entregues à tristeza, regurgitam

hinos ao grande dia torto

Os calendários mentem

e a vida segue sem Deus pelas ruas da cidade

a cidade engole a vida e vende a morte

e vende a sorte no bilhete da loteria

Mas há os que gritam:

DEUS!

Mas não O escutam

E Deus segue em silêncio,

evitando atirar pérolas aos porcos,

os homens são porcos chafurdando na dor

de uma falsa felicidade que exige

ter um carro,

ter uma casa ampla,

ter uma noite de sexo,

ter quinze minutos de fama,

ter prestígio,

ter um cargo na empresa,

ter vale-transporte,

ter roupa lavada,

mesmo a alma escarrada

pelo imenso vazio

DEUS!

Grito eu, um dos homens...

Deodato
Enviado por Deodato em 16/03/2007
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