DEUS!
Os homens seguem sem Deus pelas ruas da cidade
a cidade os engole, mastiga seus corpos e os cospe
dentro dos ônibus, nas esquinas, nos bares
e os força a crer em uma certa felicidade
Os homens não escutam o coração,
nem os sons que brotam dos esgotos
Os homens não cantam a beleza:
entregues à tristeza, regurgitam
hinos ao grande dia torto
Os calendários mentem
e a vida segue sem Deus pelas ruas da cidade
a cidade engole a vida e vende a morte
e vende a sorte no bilhete da loteria
Mas há os que gritam:
DEUS!
Mas não O escutam
E Deus segue em silêncio,
evitando atirar pérolas aos porcos,
os homens são porcos chafurdando na dor
de uma falsa felicidade que exige
ter um carro,
ter uma casa ampla,
ter uma noite de sexo,
ter quinze minutos de fama,
ter prestígio,
ter um cargo na empresa,
ter vale-transporte,
ter roupa lavada,
mesmo a alma escarrada
pelo imenso vazio
DEUS!
Grito eu, um dos homens...