Murucututu

Lá...

No segredo da terra,

Entre as vozes dos pássaros...

E o silêncio absurdo das almas,

Sangrava homens.

Lá...

No engenho,

Ouve-se os escravos,

Sob a batuta da catedral,

Morrerem asfixiando a liberdade.

Meu Deus como podia ser?...

Cantar, sorrir e amar sob açoites?

Falar, quando a liberdade, esperança dos fracos,

Vivia prisioneira da justiça.

Lá...

No engenho do passado,

O medo dizia, por chicotes para a vida, que a morte era a única saída.

Na hora de um outro tempo,

Quando os corpos mutilados gemiam,

A chuva marchava nas folhas,

Que aquela terra fundia;

Que o rio de vergonha se escondia,

Mas que havia uma luz no céu.

Lá...

Onde os versos do abandono,

Melodiavam na sombra,

Onde a dor foi reverenciada.

Agora fazem votos de saudade.

Ah Belém!...

Belém já sem identidade.

París na América.

Engenho de flores,

Poetas de cores,

Janelas de amores.

Esperando que em maio,

Batista venha a campo erguer os Cabanos,

Dizendo que ainda é hora de beber a água do poço.

Mesmo que pelos planos,

Belém como ontem sangre.

Morra pelos seus apelos.

Do ver o peso ao Murucututu...

Da Cidade velha ao reformatório do Cotijuba;

Do Telégrafo ao Benguí;

Do Guajará ao Guamá...

Do círio a fé...

Tem uma linha estreita com o Equador.

Lá...

Murucututu nos chama para ver;

Nos chama para dizer,

Que o tempo que passou,

É voz a essência da Democracia.