Quero um amor qualquer
De qualquer modo
Um amor requentado
Amor sem fascínio
Pobre
Disforme
Rasgado
Desses que se acha em esquinas
Duradouros como a inocência da infância.
Quero um amor horrível
Quasimodo de suas próprias atitudes
Arrastando-se pelos porões da indigência
Um amor que não me iluda
Um amor que me castigue
Laivo sanguíneo da inclemência.
Quero um amor envelhecido
Esclerosado
Por todos desprezado
A me sentenciar o opróbrio da sua presença
Que me revele, estúpido e frágil
Eis como sou...
Mas que seja mesmo amor
Até onde importa
Que haja ao menos uma presença
Além da porta
Que divide meu ser em dois.
Pois se houver, de rastros,
A este amor irei...
Agradecido, beijar-lhe-ei os trapos
Da vetusta vestimenta
Que eu mesmo dilacerei.