Alma de rio
O sangue, que o corpo irriga,
Tinge uma alma que intriga,
A duvidar num só vulto.
Diria que corre nesses vultos um rio de sangue.
Engano-me, pois não corre, pulsa.
A cada passo compassado percebo o golpe.
Golfejando das entranhas rubra vertente.
As noticias correm. Confesso que nunca vi correr.
Aliás, nunca as vi com pernas.
Mas talvez voam... Devem ter asas.
Sentimentos não margeados, transbordam, um rio cheio.
Rio vermelho, de solo árido, da justa cor do canário.
Do sabiá, da curruíra, que se banham em seus cenários.
Assoviam encantado com seu canto a corredeira.
Corre rio. Confesso que nunca vi pernas... perneiras.
Talvez voem, tenham asas como o canário.
De cor árida da terra, sob penas desmedidas.
Salvação n`alguma quilha, não na voz.
Águas em carreira, logo ali aquário.
Delicados murmúrios na foz.
De alma tingida, cicatrizes e feridas.
Segue rio sem vulto, tendo a água por algoz.