O ensandecido

Dei início ao outono em seus braços castos

Com vastos gritos, ardentes e prematuros.

O mar, ensandecido, se precipitava sobre seus lábios

E eu possuía teus gestos em gestos outros.

Poucos foram assim, simples e audazes

Por noites vorazes de vidas inteiras.

Criando em outras faces estrelas fugazes

Como frases verdadeiras.

Dei mais... Vários sentidos a coisas alheias,

Abrindo em minhas veias cortes profundos.

Tragando mundos de penas em penas,

Vertendo-me em infinitos rostos.

Monstros me mataram, não fora nada,

Minha amada foi mais alto com o soluço imaculado.

Calado, me vi absorto nos olhos da madrugada,

Calada, ela se manteve a meu lado.

Tantos foram como eu, incoerentes e distantes;

Amantes tortuosos da morte e seu sortilégio,

Derramando sangue em palavras restantes

Quantas vezes a morte fora um privilégio...

O silêncio me levou, com a brisa, uma flor.

Que breve e belo engano!

O outono nascendo em suas sobras de amor,

O amor vertendo seu rosto como espasmos de outono.