FACE DUPLA
Escrevo poemas que ninguém lê,
canto músicas que ninguém quer ouvir,
tenho vitórias que ninguém comemora,
falo coisas que ninguém quer ouvir.
Onde vivo eu?
Num mundo estranho, de estranhos?
Não!
Vivo num mundo de falsidade,
onde as mesmas mãos que acariciam
são aquelas que esbofeteiam;
onde a mesma boca que te beija
é a mesma que escarra;
onde o mesmo pé que apoia
é aqule que pisa sem dó.
Respiro a atmosfera doentia
desta falsidade,
ouço a voz cortante e ameaçadora
de toda essa maldade.
Até quando? Até quando isso se sucederá?
Até quando esta voz que bendiz
e depois amaldiçoa, continuarei a ouvir?
Sei que continuarei a escrever poemas
que ninguém lerá
e terei vitórias
que ninguém comemorará,
mas até à última gota de energia, lutarei
contra esse mal, que destrói vidas, famílias,
até mesmo cidades.
Mal chamado falsidade.
Julho/1986