FACE DUPLA

Escrevo poemas que ninguém lê,

canto músicas que ninguém quer ouvir,

tenho vitórias que ninguém comemora,

falo coisas que ninguém quer ouvir.

Onde vivo eu?

Num mundo estranho, de estranhos?

Não!

Vivo num mundo de falsidade,

onde as mesmas mãos que acariciam

são aquelas que esbofeteiam;

onde a mesma boca que te beija

é a mesma que escarra;

onde o mesmo pé que apoia

é aqule que pisa sem dó.

Respiro a atmosfera doentia

desta falsidade,

ouço a voz cortante e ameaçadora

de toda essa maldade.

Até quando? Até quando isso se sucederá?

Até quando esta voz que bendiz

e depois amaldiçoa, continuarei a ouvir?

Sei que continuarei a escrever poemas

que ninguém lerá

e terei vitórias

que ninguém comemorará,

mas até à última gota de energia, lutarei

contra esse mal, que destrói vidas, famílias,

até mesmo cidades.

Mal chamado falsidade.

Julho/1986

Marcelo Lopes
Enviado por Marcelo Lopes em 18/02/2013
Código do texto: T4146672
Classificação de conteúdo: seguro