EU VEJO O MAR

Durmo

o sono injusto

da espera

e o sonho repetitivo

de um outro dia.

Sei agora o que sou

sem lembrar

quem mesmo era.

um poema me tocou

ao centro da fronte

defronte a alma

E me roubou

noites tantas

fontes

dores que já não doem

ardores que já não desassossegam

em barcos que já não navegam.

O dia se iguala a noite

e tudo equivale a nada

o sol é lua apagada

e sei que já não me lembro

da alma antiga que tenho

correndo por essa estrada.

A madrugada vai alta

a lua de papel de seda

jaz num charco atirada

e eu pensei num poema

feito de luz e sombra

de sutileza

e rumor.

Pra dizer que nunca sei

se essa voz que canta é minha

se é minha a que pranteia

por fim se sou o que escrevo

ou se escrevo o que sonho.

O que sei, eu sei do sonho

e nem sei nada da vida

se o que sei é o que suponho

eu não sei nada de mim.

Um coração histrião

uma flor despetalada

boiando em rio sem fim.

doida, a alma

na proa da nau sem vela

a vida é terra

é pura pedra

e eu vejo o mar.

Sandra Fonseca
Enviado por Sandra Fonseca em 17/02/2013
Reeditado em 18/02/2013
Código do texto: T4145793
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.