poesia, agora
quantos lamentos, tolices, heresias
e ali a poesia
e sofrimentos, crendices, ironias
e ali a poesia
isolamentos, faces, taquicardias
e ali a poesia
quanto consumo, anseios, mordomias
e ali a poesia
quantas vitórias injustas, tiranias
e ali a poesia
quantos invernos sem teto ou moradia
e ali a poesia
quantos verões em que pouco sol se via
e ali a poesia
e as tempestades, a chuva, a ventania
e ali a poesia
quantas carícias você me oferecia
e ali a poesia
quantos penhascos que eu nunca me atrevia
e ali a poesia
quantas virtudes que achava que eu teria
e ali a poesia
quantos abraços tão cheios de alegria
e ali a poesia
quantas verdades que eu nunca saberia
e ali a poesia
quantas mentiras que eu logo compraria
e ali a poesia
quantas histórias que eu disse que sabia
e ali a poesia
e os enredos de que me livraria
e ali a poesia
quantos disfarces marcados de euphoria
e ali a poesia
quantos receios do que aconteceria
e ali a poesia
quantas vontades, desejos, fantasias
e ali a poesia
e as incertezas daquilo que eu queria
e ali a poesia
e a realidade, onde é que aparecia?
aqui, na poesia