CANTO 82
Amador Filho.
O manto da noite estava sendo erguido pelo ouro do sol e as nuvens brincavam de sombra e claridade na festa do dia, quan-
do saí para caminhar um pouco, a soluçar minha dor.
Caminhei sem medir o tempo, ouvindo o profundo silêncio a
falar nas profundezas do meu ser, despertando a grande e intra-
duzível gratidão por possuir tua amizade.
Andei pela praia a esmo, sem rumo, à procura de um lugar,
onde pudesse repousar o corpo dolorido.
Perambulei àquela hora matutina, sentindo no meu rosto o vapor salgado que a brisa fagueira trazia de muito longe do seio
do oceano.
Já cansado, sentei-me embaixo de um velho coqueiro e fi-
quei comtemplando a sucessão das ondas rendilhando-se na areia fina da praia e a estupenda sinfonia das mesmas ao se cho-
carem contra as pedras. Perdi a noção das horas, mas que repre-
sentam as horas, quando as mesmas são vazias e nos provocam
enfado?
Santa Luz, 31. 03. 1989.
Para minha inesquecível amiga Rosana Mara
De Vitória da Conquista.