a noite que passou

A última noite passou

como tantas que já passou

e como tantas que ha de vir...

e há de passar...

fiquemos com suas estrelas

com suas bromélias e com

os passos de suas bailarinas,

e seu perdão profundo, com

seus bordões em fivelas...

a noite não vem apenas para

nos apertar, vem para nos amolecer

diante das pedras, das guerras,

dos sopetões, da vontade de ser

como ela: muda e sem nome:

muito e pouco, na igual medida

ela vem para nos trazer

de volta ao mundo, aos

nossos pais e amigos que ficaram

aos bares da juventude, a

namorada morta e tantas

outras estradas que se bifurcaram

e a gente não se cansa de olhar

pra trás...

a noite vem de manso, e quando

nos damos conta, estamos

mortos, acabados, num lugar

deserto e sem saida,

e ali ela nos faz olhar, nos faz ver...

que nem tudo que deixamos

fazia parte de nossa caminhada