Musametáfora

Sob seus óculos escuros busco

A metáfora para o voo cego,

Para as asas surdas,

Para o limite sólido.

Na bruma que lhe envolve tento ver

Onde foi que a linha torta se partiu

Deixando-a tão antes e depois

Que sob o sol de outono de Paris

Nenhuma luz reflete sua tez.

Nas linhas e entrelinhas tento ler

Os recados cifrados, escondidos,

Que a mim revelem todos os porquês,

Dissipem a neblina de sua alma

E demonstrem qual então o seu querer.

Suas doces lágrimas fazem refletir

Cenas que o Sena hora alguma quer fixar.

Fluem então em mediterrâneo navegar

Sem margem, marina ou porto

Onde possam em seguro atracar.

Olhar perdido em translúcido horizonte

Como aguardando um trem ao incerto destino

Espraia-se, musa, em inundação difusa.

Repete o salto de outros tantos ao infinito,

Fazendo razão do peito em desatino.

Sob seus óculos escuros busco

A metáfora para o voo cego,

Para as asas surdas,

Para o limite sólido.