Sra. SILHUETA
Sra. SILHUETA
Eu me lembro,
era há muito tempo,
majestosa silhueta em minhas Campinas!
Rodoviária;
rumo... São José dos Campos.
Ronco do motor,
partida...
Quarto banco é meu posto, de vigia,
primeiro banco: sra. Silhueta!
Embarque... ônibus parte; em vigília
vigilante meu olhar sobrevoa as poltronas
e desaba rumo ao livro
em mãos da elegante sra. Silhueta;
ela manipula, empurra as páginas,
desesperadas, descabeladas páginas,
mãos ágeis da sra. Silhueta...
Zig Zag... página avante, página anotada,
manipulada, rabiscada... o título!
“Deserto dos Tártaros”...
Sra. Silhueta torce, a torsão aos túrcicos, retorce, rabisca, risca, perfura e
tece, tece, tece...
Ouço gemidos, o ronco bronco;
os gritos das páginas...
A bela sra. segue sem rumo em silhuetas,
tempo medido em desmedida,
luta,
tempo sentido,
ampulheta,
e meu olhar colide com as mãos bárbaras, tártaras e
inquietas da nobre sra.
ora, ora, ora, páginas adiante, tempo avante!
Segue rumo certo, incerto;
mãos manipuladoras, saltam, pulam páginas, o grifo!
Mais um grito!
Da letra, das letras... rumam ao deserto,
rumo ao sol abrasador-matador-encantador...
As letras, as savanas, as estepes,
dunas de areia, sereia-oásis e
as letras brilham luminescência, Mercúrio!
Mergulho, essências, perfumes da sra. Silhueta;
a letra, as letras, as sílabas, vogais, consoantes, areias finíssimas
emolduradas em minha mente,
um quadro epifânico!
Rumo bem bem perdido... em pânico!
Tempo e espaço alternados,
alterados...
Meu olhar marcha sobre o quadro de letras;
ela porta as estrelas nas mãos,
que cortam, rasuram, apagam, amputam, anotam anotações,
constelações...
em abandono minhas defesas rotacampinasopmacinasaojosedostranstornadosonhosonolênciasiasonhosopmacampinasmaciasenhoracorreperdidameioaodesertartarosusbinôôô...
estrela cadente,
cabelos doirados,
caneta ou lápis?
Não me lembro, tão-somente mãos ágeis,
Sereia perigosa,
sra. Silhueta,
curvas sinuosas,
indecorosa Sereia,
gira a ampulheta,
areia fina a vida passa,
Sereia ociosa...
Intoxicanção de letras, signos,
sensações; prossigo, imaginações, estações...
Estação de embarque!
Marcus!
Desembarque...
_ Oi, Sylvius! Fez boa viagem?! – Alexandria.
Prof. Dr. Sílvio Medeiros
Campinas, é Marte-verão de 2007.