Palavras

Por aqui muitas palavras nos são ditas, escritas.

Destas, umas muitas dizem muito.

Outras, nem tanto...

Muitas somente tocam nossa pele e,

Como brisa, passam deixando apenas leves arrepios.

Outras, iracundos furacões, transpassam-nos a derme, fazendo sangrar nossas almas

e cravam-se em nossas entranhas.

Algumas, pela fragilidade da pena ou pelo hesitar do poeta, não atravessam sequer os obstáculos naturais dos nossos ouvidos.

Outras, rompem nossos hímens-tímpanos desvirginando-os para o até então desconhecido,

apresentando-nos outros mundos,

redesenhando o velho mundo, desenclausurando-o.

Algumas, pois ainda desconhecem sua própria força transformadora, não conseguem ir além das superfícies,

das crostas, das cascas.

Outras são capazes de virar os mundos ao avesso

e de fazer uivar de dor o insensível.

Algumas, calmos rios, acomodam-se aos leitos, não percebendo a seca que os consome.

Outras, poderosos caudais a lutar contra os limites das margens, ampliam-se, ampliando também seu espaço vital.

Umas, serenas. Outras, furiosas!

Ambas carregadas de sentidos e conceitos.

Palavras!

São palavras!