Ode às balas dialéticas

Noite adentro sibilam balas pretas!

Riscam os céus da nossa resignação

mostrando seu poder desconstrutivo,

Cortam os ares carregando o calor

sabendo da frieza ao final da trajetória,

Comportam a plúmbea densidade

esperando encontrar ao término da viagem

a maciez de concretos alvos móveis.

Voam balas dialéticas!

Buscam o eterno enquanto deparam-se com o efêmero do show,

Incendeiam a noite sabendo do sol que surgirá em pouco,

Sacodem estruturas adormecidas

revigorando suas jovens e envelhecidas veias.

Voam balas dialéticas!

De obscuro voo marginal faz-se a clareza do caminho,

Em asas curtas de andorinhas brotam condores altivos,

O temor dos primeiros passos dá luz à ousadia pulsante

Que se crava à espiral do tempo e aponta ao infinito.

Voam balas dialéticas!

Corajosamente trilham rumos que desfazem a mesmice,

Claramente escapam ao torpor aprisionante da poeira acumulada,

Esbofeteando a cara dos que insistem nos pretéritos discursos da improdutividade juvenil.

Voam balas dialéticas!

Seja o devir eterna música que suplanta o silêncio,

Sejam os silêncios pausas lúdicas a brindar nossos sentidos,

Sejam os voos, mesmo os mais curtos,

portadores sempre de novos e inebriantes clamores à vida que se festeja!

Noite adentro sibilam balas pretas!