Salve os 70

E agora, baby?

Nosso Woodstock não rolou!

Trocaram rock and roll por algo morto

Que se toca no rádio não me toca

Produz em mim espécie de aborto

E a sobra é só aquilo que me choca.

E agora, baby?

O nosso carnaval enfumaçou!

As nossas fantasias e avenidas

Rasgadas puseram blocos em disparada.

Ocultar-se virou regra desmedida

Prá quem não quis dar ao algoz a voz calada.

E agora, baby?

O sonho de Arembepe se esvaiu!

Nossa comunidade encolheu

Deixando-nos a sós com nossos eus

Buscando sobrevida em amplo breu

Fingindo a paz como quem se finge deus.

E agora, baby?

Nosso arco-íris se tingiu!

As sete cores numa só se transformaram.

O verde-oliva plúmbeo em cinza fez o céu

E a nossa poesia apagaram

Fazendo-a lápide em estranho mausoléu.

E agora, baby?

Nosso horizonte se turvou!

Disseram ame ou deixe o nosso chão

Não dando chance a outra opção.

Cortando muitas línguas e cabeças

Deixaram como herança um aleijão.

E agora, baby?

Vê de novo algo que alente?

Sente brisa ou chuva que refresque

Novos sonhos e nossa vida alimente?

Já cresce em nós o que nos livre d’outro ataque?

Ou, sozinhos, seguimos a tudo indiferentes?