Poética do Individual
I
O amor não é pra ambos.
Na verdade
é raridade ele ser à dois
(porque, geralmente, o do outro já morreu).
É ter arrancado o coração e não ligar de sangrar depois
é não ter medo do adeus.
II
Mas é que, por eu sangrar,
achava que alguém teria finalmente roubado o meu,
mas quem diria
que era só uma hemorragia!
Porque ele continuava ali,
tão mudo
não conquistado, não roubado,
não sofrendo nada e sangrando por tudo.
III
Difícil fingir
que um pouco de si
não ficou no outro
depois de tanto sangramento exposto
das veias até a raiz,
mas é assim
tudo que não se cura
vira textura
de alguma futura cicatriz.