CONTA DE MENOS
à minha história sem graça
Não sei o que ocorreu comigo esta noite
Fui levado ao passado de mim por mim mesmo
Voltei ao correio de quartos um ligado ao outro juntos mesmo
Lá reencontrei meus desejos, meus sonhos ou os não sonhos que tinha
Me vi sentado na calçada curta da vida
Olhei novamente minha avó que com a trouxa na cabeça a me olhar
Num olhar suado a espera do prestamista a cobrar o lençol de cama comprado a várias prestações.
Seu sorriso não era o mesmo estava sem vida...era apenas um sorriso sem força
Mas vi que era ela que me sorria como a dizer: não estou.
Passei pelos cantos do correio sem dizer nada a ninguém
Muitos estavam junto de mim neste instante
Faces amigas que me são hoje distantes, mas estavam perto demais
Senti uma vontade louca de chorar
Desesperadamente gritar
Enlouquecidamente pedir por algo que não sei bem.
Sombras solenes saiam das entradas dos quartos de aluguel
Com seu Aldo com seu carnê
Com as fofoqueiras de plantão a falar dos que pagam e dos que não pagam
Meu coração chorou de saudade de tudo que vi, vivi e revivi.
Não uma saudade de querer voltar, mas de saber que passou.
De perceber que as vidas vistas não podem ser mais vistas
De entender que muitos do que me acompanham nessa viagem de mim a mim
São números. Ocupam espaços outros vagos e muitos nem ocupam mais.
São fantasmas da minha história.
Júlia, Carminha, Severina, Preta, Seu Cid, Dona Zefinha, Dona Mirinha, Antonio do coco são nomes apenas...
Que compõem uma apenas uma vida de mim.
É como se estivesse numa fila
Onde se tem sempre menos um
Menos uma pessoa
Menos uma vida
Menos uma história
Cada capítulo da minha é rasgado quando a conta é menos.