[A Crueza de Marina]

A crueza de certas falas impressiona, incomoda...

E se incomoda, então

deve ser dita de novo,

deve ser lida de novo

deve ser experienciada de novo

embora seja como um soco no estômago...

Mas, sendo impossível de ser purgada,

deve, acima de tudo, ser ruminada...

e isto, pelas captações mágicas

que traz a ruminação daquilo que incomoda.

Quem nunca tentou, não sabe...

Estranho poema... estranha fala...

estranha Marina essa...

E quem sou eu que leio a estranheza

de Marina a esta hora da manhã?!

Não me sei...

Mas sei que me estranho com frequência!

Fala de novo, Marina, fala!

__________________

Marina Colasanti

Sexta-feira à noite

Os homens acariciam o clitóris das esposas

Com dedos molhados de saliva.

O mesmo gesto com que todos os dias

Contam dinheiro, papéis, documentos

E folheiam nas revistas

A vida dos seus ídolos.

Sexta-feira à noite

Os homens penetram suas esposas

Com tédio e pênis.

O mesmo tédio com que todos os dias

Enfiam o carro na garagem

O dedo no nariz

E metem a mão no bolso

Para coçar o saco.

Sexta-feira à noite

Os homens ressonam de borco

Enquanto as mulheres no escuro

Encaram seu destino

E sonham com o príncipe encantado.

____________________________

[Desterro, 10 de fevereiro de 2013 - às 05:22]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 10/02/2013
Código do texto: T4133642
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.