[A Crueza de Marina]
A crueza de certas falas impressiona, incomoda...
E se incomoda, então
deve ser dita de novo,
deve ser lida de novo
deve ser experienciada de novo
embora seja como um soco no estômago...
Mas, sendo impossível de ser purgada,
deve, acima de tudo, ser ruminada...
e isto, pelas captações mágicas
que traz a ruminação daquilo que incomoda.
Quem nunca tentou, não sabe...
Estranho poema... estranha fala...
estranha Marina essa...
E quem sou eu que leio a estranheza
de Marina a esta hora da manhã?!
Não me sei...
Mas sei que me estranho com frequência!
Fala de novo, Marina, fala!
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Marina Colasanti
Sexta-feira à noite
Os homens acariciam o clitóris das esposas
Com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
Contam dinheiro, papéis, documentos
E folheiam nas revistas
A vida dos seus ídolos.
Sexta-feira à noite
Os homens penetram suas esposas
Com tédio e pênis.
O mesmo tédio com que todos os dias
Enfiam o carro na garagem
O dedo no nariz
E metem a mão no bolso
Para coçar o saco.
Sexta-feira à noite
Os homens ressonam de borco
Enquanto as mulheres no escuro
Encaram seu destino
E sonham com o príncipe encantado.
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[Desterro, 10 de fevereiro de 2013 - às 05:22]