Piedade ao Poeta
"Junto às ondas do mar a virgem durma" - Alvares de Azevedo
Minha dama, mi' donzela
Minha musa tão amável
por que tu teve de partir
e deixar-me miserável
Inda que aos prantos rogue minh'alma
de teu sono eterno não tornarás
enquanto em lágrimas afogo o peito
minha donzela descansa em paz
O mármore negro marca o portal
um caminho ao reino astral
o caminho pra meu lar
dizem que o lar onde bate forte o peito
local onde ao fim da vida deseja o leito
um local que se pode amar
De mentiras afoguei o peito
qualquer lugar pode ser meu leito
sem remorsos à levar
que as trevas me negue a luz
que só os tolos deixa que conduz
ao caminho de amar
As nuvens negras da tempestade
que só se deslumbra sem vaidade
alimenta minha mente
à suas regras sou o pecador
nas leis d'outros, merecedor
de ter paz ante a serpente
Criatura vil, a maldição
a doença do coração
que no fim há de levar-nos
a outro mundo, talvez
paciente, espero a vez
de no fim alcançar-nos
Que os anjos te guarde
e que tu me aguarde
pois o amor é de verdade
mesmo sendo eu pecador
um poeta, tolo e sofredor
hás de me ter piedade