PARADOXOS
Ouço uma música triste
Já sem dor, sem rancor.
Ouço uma música triste
Na madrugada fria
Neste chuvoso verão.
Ouço o barulho das águas
Lavando ruas e almas
Ouço o barulho das águas
Na madrugada fria
Neste verão sem explicação.
Ouço ao longe o choro de menino
Fome, insegurança ou medo
Ouço ao longe o choro de menino
Na madrugada fria
De insônias tantas, em vão.
Não me dói ouvir violinos
Orquestras reinterpretando barrocos
Madrugadas frias não me afligem
Apenas me silenciam
E me questionam
Paradoxos de verão e frio
Inexplicáveis mutações e rompimentos
Ouço o barulho das águas
Nas frias madrugadas do sertão
Mesmo no verão
Ouço a música triste
Sem tristeza na alma
Nem no coração.
Apenas perdido na escuridão
Que me faz ver a luz
Que ainda não veio inteira
Mas está no encalço
De uma alma que ouve música triste
Ao som da chuva torrencial
Sem dor
Nem rancor
Nem mágoa
Na madrugada fria
Mas não fatal.