HOMEM NO ESTOJO
HOMEM NO ESTOJO
(Tchecov)
Ouço mil línguas
Povôo outras terras
Minha incompreensão
É mal incisivo
O estomago é ferida
Os ouvidos, nada
Visito médicos onipresentes
Sofro intervenções
Mais poéticas que cirúrgicas
Na medonhez da carne
Estou pesado e dopado
São milhares as drágeas
Ampolas, líquidos
Visito, aéreo, os jornais
Não entendo o código
Tento decifrar sorrisos
Mãos estendidas, olhares
Não consigo
Prossigo na visitança
A consultórios metafísicos
Os doutores nada dizem
Observo-os nos exames
Olhares atoleimados
Sorrisos mordazes por saberem
Tratar-se de um incurável
Nenhuma palavra de encorajamento
Peregrino, o nômade, por fórmulas
E misturas, conselhos e bulas
Crônico de protestos e antíteses
Ouço valsas e leio Tchecov
Meu espírito a mil verstas
Do corpo repousado
Ingiro poções fantásticas
Aspiro aromas sintéticos
Lentamente me despeço
De doutores, consultórios
Ritos e passes inciáticos
U´a mão real seria bem-vinda
Olhar sincero: isso eu compreenderia
Nalgum canto, ouço sons rudes
Atento aos homens de branco
Às paredes encardidas
Percebo o mundo ficando longe
Da minha boca uma lembrança
Em russo: spassiba spassiba...