UM DESERTO NA FACE...
O que sai de mim, se salva a poesia.
É meu momento de maior insensatez,
logo, de verdade absoluta!
Se quero andar, ando pisando poesia,
as que se contorcem ou gemem,
estão vivas e deixo-as sobreviver.
Quando entorpecido no tempo,
respiro palavras desarrumadas,
mas puras e verdadeiras.
Leves que voariam no vento, se diluiriam…
Umas não servem para a poesia,
de tão lapidadas que são.
As que foram abandonadas,
são quase perfeitas!
As sujas e feias, já são poesias.
Minha poesia não tem cor, mora na sombra.
Mas um poder exagerado que deslumbra;
não os prudentes, mas os loucos de espírito
e os de fulgores nos olhos. Esses divisam
melhor os horizontes e são mais felizes.
Dão-se mais, com as coisas íntimas,
que com o brilho falso dos espelhos!
Minha poesia se perde na noite e escurece.
Meus olhos se umedecem de falta.
Noutra noite, chega sem cerimônia
e fica em mim, até que brilhe o sol.
E tudo é festa, tudo flui bem.
Mas na outra noite, quando ela se for,
sei que me nascerá um deserto na face!
Nesse vai e vem; minha poesia foge pelas
frinchas e gretas, se suicida nas garras do
pássaro azul, caçador de letras rebeldes…
E deixa-me assim: um poeta sem poesia!