[Pedaços da Noite Grande]

[Fragmentos do Curral Noturno que me Cerca]

... ...

A lamparina projetou os medos antigos

lá nas brancas pedras-de-fogo do curral escuro;

e sob o triscado dos rasantes dos curiangos,

sombras da lua dançam no estrume seco —

são tão reais, tão reais — até fazem poeira!

O cheiro de querosene espalha-se,

alcança o céu da boca seca,

mas... e a coragem de ir à cozinha,

quem sabe que assombração

estaria vigiando o pote d’água?!

Amanhã — que consolo! — amanhã

será como foi o dia de hoje,

mais um nó no cordão da paciência...

Coaxam longe os sapos, cantam as angolas,

até se ouve a ruminação lenta do gado manso —

são os estertores do dia longo, longo;

rangentes molejos na espera do poente do sol...

Mas, espera... espera de quê? Ninguém sabe dizer...

Só o que eu sei é que no abismo

da face do mundo voltada para mim,

a vida minha é uma noite grande,

grande de não se divisar o sentido dela,

grande de se apagar a noção do Antes,

grande se incertear o passo no Agora,

grande de se perder o rumo do Amanhã —

sim, grande noite, grande de não ter mais fim... nunca!

E os dias?! Ora... são apenas pedaços,

são claros no tecido da noite grande, uai!

Às vezes, a gente põe um cadinho

de mel neles, para facilitar a espera...

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[Desterro, Quinta, 7 de fevereiro de 2013]

Excerto de "Curral Noturno", do [meu] Caderninho #4 de capturar ideias

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 07/02/2013
Código do texto: T4128281
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