Sons de um martelo
Marteladas de pedreiro no prédio vizinho.
Fortes, firmes, compassadas.
Como sinais de telegrafia,
Tento decifrar esse código...
Toques,
Batidas continuadas e descontinuadas...
No meu laicismo,
Decifro só isto:
O mundo anda.
O que desanda é a preguiça de quem não trabalha.
Pedreiro de marmita só com feijão, arroz e ovo.
"Arroz c´ovo" soa quase como um prato russo...
Brinca de martelar o que já foi menino.
Destrói pra construir ou remendar paredes.
O prédio já está feito,
É reforma.
Aproprio-me do som do pedreiro
Com o qual ele não vai fazer nada
E aqui
No meu picadeiro
No meu camarim
Faço-o desfilar como um artista bom de palco
Só pra mim!
Mas o pedreiro não sabe.
Sons soltos no ar
São de quem os pegar...
Sons primitivos,
Que lembram o da pedra contra pedra
Na Idade da Pedra...
É também com esses sons
Que se constroem cidades!...
Para todos os Pedreiros
Desejo só Felicidades!
Eles edificam
E depois não podem entrar...
O mundo dos edifícios não é fácil,
É bem difícil!
De tudo, não restará pedra sobre pedra...
Mas restarão os sons de todos os martelos
A fazer ondas no universo infinito...
Ondas circuncêntricas,
Que Deus identifica e justifica.
Da construção do seu Reino...