antes da tempestade
que cores imantadas
que se perdem nuns olhos fundos assim
sem beiras
de cores malditas
que ditam cinzas
aos ladeados
às texturas
e às faces
em pedras
vá antes dos raios
por favor
volta depois dos trovões
e cuida mesmo de saberes
te ensurdecer
vês o desastre que somos?
fecha meus olhos, irmão
não cabe na avenida
um mínimo de cor de minha retina
que meus olhos
prenhes de arroubos
não roubam mais
o brilho dos olhos de ninguém
cores
cores
fecha meus olhos, irmão
que acinzento os dias
e fica tão certo
o vício meu de sombras
a sede minha de copas
o delírio de todos de luas
que é preciso mais que pernas
pra dizer
que é preciso mais que bocas
pra correr
de encontro ao vale de cores
impossível a nós
brinca de cores por lá
sei que podes
lá onde eu não me saiba caminho
ou silêncio
nem vício nenhum:
sê dono!
fingi um rio
um dia de menino
e o rio era
tão dentro da infância
de toda a sede de brincar
um rio que podia correr
e parar quando quisesse
e se camuflar de espelho
e se deixar adorar
e se guardar em si
e de si nada
se deixar levar
que tantos olhos maus e fundos!
olhos que engoliam rios
sem mastigar
fingi um rio
um dia
e sabes bem
o quanto me fiz de leito, irmão
o quanto desviei de troncos e curvas
e venci enchentes
e secas
e penei por sóis
eu fingi
e engoli-me de águas
por ti
não
não quero tuas mãos:
teus olhos sobre mim
me bastam
recolha teu remorso
sê forte!
vá antes dos raios
por favor
volta depois dos trovões