antes da tempestade

que cores imantadas

que se perdem nuns olhos fundos assim

sem beiras

de cores malditas

que ditam cinzas

aos ladeados

às texturas

e às faces

em pedras

vá antes dos raios

por favor

volta depois dos trovões

e cuida mesmo de saberes

te ensurdecer

vês o desastre que somos?

fecha meus olhos, irmão

não cabe na avenida

um mínimo de cor de minha retina

que meus olhos

prenhes de arroubos

não roubam mais

o brilho dos olhos de ninguém

cores

cores

fecha meus olhos, irmão

que acinzento os dias

e fica tão certo

o vício meu de sombras

a sede minha de copas

o delírio de todos de luas

que é preciso mais que pernas

pra dizer

que é preciso mais que bocas

pra correr

de encontro ao vale de cores

impossível a nós

brinca de cores por lá

sei que podes

lá onde eu não me saiba caminho

ou silêncio

nem vício nenhum:

sê dono!

fingi um rio

um dia de menino

e o rio era

tão dentro da infância

de toda a sede de brincar

um rio que podia correr

e parar quando quisesse

e se camuflar de espelho

e se deixar adorar

e se guardar em si

e de si nada

se deixar levar

que tantos olhos maus e fundos!

olhos que engoliam rios

sem mastigar

fingi um rio

um dia

e sabes bem

o quanto me fiz de leito, irmão

o quanto desviei de troncos e curvas

e venci enchentes

e secas

e penei por sóis

eu fingi

e engoli-me de águas

por ti

não

não quero tuas mãos:

teus olhos sobre mim

me bastam

recolha teu remorso

sê forte!

vá antes dos raios

por favor

volta depois dos trovões

Capiau da roça
Enviado por Capiau da roça em 07/02/2013
Reeditado em 07/02/2013
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