DOS AVISOS
DOS AVISOS
Detecto no ar um peso
Certa convulsão insana
Observo, ansioso, as nuvens
Em busca de resposta
Do ocidente vem o pulsar
Quase maligno que aflige
O céu, quieto, nada responde
As campainhas do silencio explodem
Volto a sentir a terra
Buscando algum laço
Algo firme e concreto
Vendo-me puro sortilégio
Procurando decifrar
Com signos explicáveis
O que me faz pensar
Em desígnios abomináveis
Quietude imensa se assenta
Sobre a mudez da tarde
Na verdura das árvores
E assusta por tão soturna
Quando já me denunciava
Amenizado
Como se fora um preparo
Endemoninhado
Surgem as gralhas rainhas
Com indescritível alarido
Bando assustador
Vergando o céu de cinza
Na brenha ferrenha
No espaço reduzido
Alojada em seu centro
A ave mulher de negro sentido
Fende o céu seu bramido
Tendo à volta aves sem tino
Que gemem sem ritmo
A dor que sentimos
Sou pulsões, revolução
Arquejando, dolorido
Vendo no céu
As aves em arribação
Passado o terror
Regressa a paz ao chão
Que estremece de pavor
Ao sentir a aproximação
Acomodando-se sobre
As copas das árvores tímidas
O bando do norte
Afia os bicos
Posso, apenas, adivinhá-las
Lagrimas se me acumulam
Ergo os olhos anuviados
Querendo a resposta negada
Breve, passam pessoas
Contando de uma invasão
Que lhes secou o chão
Levou a plantação
Penso nas gralhas
Na negra com seus avisos
Ainda ecoa, faca
Sons do seu gemido.